Libertem as crianças...

Quando me encontrava a terminar o ensino secundário, não sabia ao certo aquilo que queria ser quando “fosse grande”. Na verdade, não me recordo de algum dia ter querido ser cabeleireira, astronauta ou outra profissão que as crianças habitualmente dizem querer ser.

Sempre tive a perceção de que somos muito pressionados pela sociedade para cumprir com os tempos que nos são impostos: aos 18 anos vais para a faculdade, aos 22 começas a trabalhar e depois tens de constituir uma família.

Mas lá cumpri com o esperado… fiz uma pesquisa aqui, outra acolá e, na verdade, não cheguei a nenhuma conclusão mas lá tive que decidir sobre aquela que será (de acordo com o que a sociedade nos diz) a minha profissão, agora que sou grande: decidi que ia para Psicologia.

No estágio curricular (no 5.º e último ano de curso) estive a trabalhar com crianças e percebi que de facto poderia vir a querer fazer disto a minha profissão. Mas foi também neste contacto que compreendi que existe ainda muito trabalho para ser realizado de forma a combater algumas fragilidades que fui identificando ao longo do meu percurso.

Se por um lado temos crianças felizes, que brincam na rua, convivem com pares e são devidamente estimulados, por outro temos crianças profundamente fragilizadas, isoladas, com semblante triste e incapazes de se autorregular. 

No último livro que li, intitulado Libertem as Crianças, de Carlos Neto, anotei a frase “é absolutamente essencial que as crianças tenham uma infância feliz, não uma infância inventada pelos adultos”. Para que as crianças tenham uma infância (e um futuro) feliz é importante que os adultos à sua volta capacitem estas crianças para identificar e lidar com os sentimentos que podem experienciar no seu dia a dia, mas é igualmente importante que estes possuam a capacidade de identificar os sentimentos daqueles que estão à sua volta.

Algo igualmente importante, é permitir que as crianças brinquem. De acordo com o autor “brincar é importante porque o nosso cérebro é social e aprende com o cérebro dos outros” e, na minha opinião, perceciono que, devido à pandemia, esta foi uma área que acabou por ser descurada e que atualmente causa muita ansiedade não só nos adultos, mas principalmente nas crianças, e que poderá vir a ter ainda mais impacto no futuro destas. 

Para terminar, deixo novamente uma referência a este autor:

“Brincar e ser ativo é a melhor resposta para a incerteza que vivemos em relação à realidade biológica, social e cultural”.

Libertem as crianças…

… e as vossas crianças internas também.

Cristina Alves

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